07 fevereiro 2012

Do Feminino Sombrio: Um texto muito bom.

Mulheres, agora a Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres (SPM) está com uma nova ministra:  Iriny Lopes (Laerte, haha) deixa o cargo para a socióloga Eleonora Menicucci de Oliveira, que foi presa e torturada durante a ditadura militar. A torcida é grande para que ela assuma esse cargo com mais disposição que a antiga ministra...

Enfim, lendo matérias a respeito disso e da Medida Provisória 557 (MP 557 sobre cadastro universal de gestantes) no site Vi o Mundo de Luiz Carlos Azenha, encontrei um texto relacionado muito LINDO e triste e quero compartilhar com vocês.

É um texto Márcia Frazão, encontrado no blog Cynthia Semíramis. Chama-se A Face Negra da Deusa.

"A conheci na enfermaria da maternidade. Eu tinha acabado de parir meu filho e, desamparada pela solidão do quarto particular, dedicava as manhãs a perambular pela enfermaria. Era aconchegante estar reunida com aquele bando de mulheres que não entendia como eu podia querer estar ali junto a elas. E foi assim que a conheci. Uma mulata que já não ostentava o frescor dos seus poucos anos de vida. Ficava deitada numa cama,sem nenhuma assistência dos médicos e enfermeiras. Os médicos passavam por ela como se ela fosse um fantasma incômodo, uma mancha que o clorofórmio não limpava. Fedia muito. Um cheiro de maresia e carne podre. Não aguentava se levantar e ir ao banheiro. Os olhos vidrados miravam um ponto que só ela enxergava…

As mulheres da enfermaria, as mães, eram as únicas que a assistiam. Limpavam o seu corpo e dividiam com ela as suas parcas provisões (as enfermeiras quase não lhe davam comida). Eu, fechada na burrice burguesa e alienada da “vida real”, não entendia a razão da sua presença. Afinal, aquela era uma enfermaria para parturientes e ela não parira ninguém. Mas o que mais me intrigava era que as mães a reverenciavam como se ela tivesse parido Jesus!

Os dias se passaram e numa manhã o seu leito ficou vazio. Morrera à noite, cercada pelas mulheres que tão bem a conheciam. Não teve assistência dos médicos e nenhuma enfermeira foi lhe ver. Morrera com o rebento morto no ventre. Um rebento perfurado por uma agulha de tricô. Um aborto que não dera certo.

Foi enterrada como indigente e deixou para as ruas os seus quatro filhos, quatro crianças que ela criava às duras penas. No dia da sua morte as mulheres não sorriram nem embalaram os seus rebentos. Vestiram negro e se esconderam na sabedoria, como a lua se esconde no céu nos dias da Lua Negra!".

Não sou do tipo "snif" pra qualquer coisa que vejo/leio/ouço, mas me comovi com essa história. Fiquei pensando no pessoal que é contra o aborto porque julga um feto como gente a partir da concepção MAS que ignora totalmente mulheres em situações como essa. Como se ainda estivéssemos sob a lei do "olho por olho, dente por dente".
Isso porque a maioria ainda se diz cristã e "tem deus no coração". Eu, hein...

11 comentários:

  1. Não sou a favor do aborto, acho que existe hoje em dia maneiras suficientes de se prevenir uma gravidez. E não adianta as pessoas falaram: Ah é pobre.... po tem camisinha de graça nos postos de saúde.
    Acho que a mulher quando engravida deve assumir a total responsabilidade, pois ela poderia ter se prevenido, agora em casos de estupro é diferente. Porém se foi uma coisa que ela fez porque quis, sabia das consequências. E NADA justifica ela assassinar o próprio filho e muitas vezes a sí mesma, como aconteceu na história, não pensam nas consequências e acabam se ferrando. Se engravidou, e não quer?
    Doe, não precisa matar, arrancar do ventre ou jogar na lata do lixo. Tantas pessoas sonham em ter um bebê e não podem, doe para um orfanato ou deixe aos cuidados de alguém.
    Nada justifica essa maldade, de querer tirar um pequeno serzinhho que ainda não entende nada e só quer ter a chance de viver.
    Sei que muita gente não vai concordar comigo, mas eu acho que nenhuma mulher que engravida é burra, sem informação... se ela tem informação para abortar tb é esperta o bastante para ter se prevenido, agora se não fez, o mínimo que ela ´pode fazer é arcar com as consequências de sua irresponsabilidade, nem que seja apenas dando a vida à ele e entregando- o a quem realmente possa dar amor.

    Enfim na minha opinião nada justifica a maldade.

    ResponderExcluir
  2. A história teria um final feliz se a mãe tivesse aceitado a gravidez e depois o bebê fosse para adoção. Ela estaria viva, o bebê estaria vivo e uma família mais feliz com seu novo integrante. Então a frase final poderia ser: e as mulheres vestiram aquilo que gostavam e exibiram sabedoria como a lua cheia brilhante no céu. A existência humana é feita de escolhas e suas consequências. A escolha pela vida gera vida e a escolha pela morte gera morte. A lógica de tudo isso é bem simples e clara mesmo que esteja em meio a névoa de frases dramáticas e pseudo poéticas.

    ResponderExcluir
  3. Meninas, o cerne da questão aqui não é a legalização do aborto, ou a "burrice" das pessoas (aliás, é assim que nosso Estado acha bom, pra sermos manipuláveis) ou a má educação que temos (porque não depende só da escola, mas da família, mídia... tudo colabora), blá-blá-blá. É o atendimento a mulheres que já realizaram um aborto. O feto pode estar morto, mas elas ainda estão vivas e têm o direito (até porque pagam impostos) de um atendimento DIGNO pelos "profissionais" da saúde que juraram salvar vidas. Se tratam com descaso esse tipo de ocorrência, como se "ah, ela matou um feto então merece morrer lentamente por isso", então deveriam trabalhar em outra coisa. Como disse a Carol, nada justifica a maldade. E né, "não julgueis para não serdes julgados" é aplicado onde pelos cristãos?
    Tenho amiga que já abortou, e não gostaria que alguma delas (ou alguém da família), pagasse sua "burrice" (ou sei lá o que, como quiserem rotular) morresse de forma dolorosa e sem atendimento desse jeito. Se fosse uma amiga-amiga (não amiga da onça, haha) ou irmã de vocês que abortasse e corresse risco de morte, achariam legal que fosse tratada assim? Que não tivesse chance de viver? Um beijo procês.

    ResponderExcluir
  4. Correção: "morrer de forma dolorosa...", e não "morresse".

    Carol, você se esqueceu de falar da responsabilidade do HOMEM no papel de engravidar uma mulher. Afinal, não engravidamos sozinhas... Cadê o Estado e toda a opinião pública atrás dos pais que abandonam seus filhos? Porque não basta só 20% de um salário mínimo pra pensão alimentícia (e o resto a mãe que se vire) para o desenvolvimento de um ser humano. Tá lá no Estatuto da Criança e do Adolescente.

    Observadora: O ideal seria não haver aborto, mas existe. E aí, a solução é deixar essas mulheres morrer lentamente? É a solução pra quem defende a vida? :x

    ResponderExcluir
  5. Apenas uma coisa: sou contra o aborto! Com ou sem motivos. E não adianta a senhorita vir me dar bronca, viu? Uma vida é uma vida. Assim como essa mulher não deveria ter sido deixada sozinha para morrer sem assistência, um bebê não pode morrer sem ter tido a chance de viver de verdade.

    Beijo.

    ResponderExcluir
  6. O homem não deve fugir da culpa não, mas a questão nem é o papel do homem nisso, mas sim o aborto e quem aborta é a mulher, pois o bebê está dentro dela e não do homem.
    E se ela escolheu o caminho do aborto, infelizmente morrer é uma das hipóteses, mas enfim a escolha foi dela, morrer em um aborto mal sucedido é culpa dela mesma. Poderia escolher ter a criança e dar ela para alguém, até mesmo para o pai se ele quiser. Mas cada escolha uma consequência, e as mulheres sabem muito bem as possíveis consequências de um aborto, elas matam o filho, e podem se ferrar também. É o preço que se paga.

    ;*

    ResponderExcluir
  7. Fico feliz que tenha entendido o meu ponto de vista e eu tb compreendo o seu. É muito triste as vidas perdidas por ignorância e crueldade. =/

    Beijocas.

    ResponderExcluir
  8. Como você disse, dizem ter Deus no coração, mas mostramos que O temos quando alguém que pensamos não merecer, é apreciado com nosso amor. Devemos amar até os próprios inimigos, e essas mulheres, que optam por este ato, são pessoas que precisam de fé, mais que nunca, para se arrepender deste pecado...

    ResponderExcluir
  9. Adoro os textos da Semíramis, quando crescer, quero saber usar as palavras conscientemente assim! ;D

    ResponderExcluir
  10. Bah, cabei de falar merda! Ia dizer que gostava dos textos da Frazão e da Semíramis também, só saiu metadjy! uahsuhs

    ResponderExcluir
  11. Eu também sou contra o aborto, mas quando já houve o aborto e a mãe está em situação de risco, eu - como defensora da vida que sou - devo sim, me sensibilizar com a situação desta mãe moribunda, independentemente do que a levou a fazer isso. É fácil achar que agiria de forma diferente quando nunca estivemos nem perto de uma situação desta.
    E outra: quem disse que ela não foi estuprada? Quantas e quantas mulheres são estupradas por seus parceiros todos os dias e nem tem consciência disso?
    Quantos homens que veem que a camisinha estourou e continuam o ato sexual?
    Quantas vezes num ato desesperado fazemos coisas da qual nos arrependemos?
    Quantas vezes você foi a um posto de saúde e a camisinha ou pílula não lhe foi dada porque você esqueceu de levar um papel que comprovava que você era do bairro?

    Sinto muito meninas, vocês não sabem o que é pobreza, o que é estar na miséria, o que é depender de um sistema de saúde precário, de um sistema falido de educação, vocês realmente moram no Brasil?

    Não julguem as pessoas e as situações de dentro da bolha na qual vocês estão, não viu ninguém ignorante o bastante? Saia de casa, visite as periferias, as pequenas cidades, a zona rural (a parte pobre, claro!), enfim, retirem as vendas!

    Não é por ser contra o aborto que fecharei meus olhos para outras injustiças... E só digo uma coisa: se a mãe fosse branca, rica e bem relacionada politicamente, nós nem estaríamos tendo essa conversa.

    ResponderExcluir

Sintam-se a vontade para comentar! Sua opinião é muito importante e faz o blog melhorar.